A menopausa é um rito de passagem inevitável na vida de toda mulher, mas isso não significa que precise marcar o fim da vitalidade, da sensualidade ou da libido. Pelo contrário: com as práticas certas, este pode ser um momento de reencontro com uma força feminina mais madura, intuitiva e poderosa. Dentre as abordagens mais eficazes para atravessar essa fase com equilíbrio e prazer, o yoga se destaca como um caminho profundo e transformador.
O que acontece com a libido na menopausa?
A queda nos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios fundamentais na regulação do ciclo reprodutivo feminino, impacta diretamente a libido. Essa alteração pode trazer, além da redução do desejo sexual, secura vaginal, fadiga, alterações de humor e distanciamento da própria sensualidade. É comum que muitas mulheres relatem sentir-se “desconectadas” do corpo ou do prazer.
Entretanto, a libido não é apenas uma questão hormonal. Ela também está profundamente conectada à saúde emocional, ao estado mental e ao quanto a mulher se sente viva, segura e presente no próprio corpo. É exatamente nesse ponto que o yoga entra como um recurso não apenas físico, mas também energético e emocional.
Yoga como via de reconexão
Mais do que posturas físicas, o yoga oferece um mergulho no autoconhecimento. Por meio da respiração consciente, da atenção plena e do movimento, a prática cria um espaço interno de escuta e presença. A mulher começa a se observar com mais gentileza e curiosidade — não para “recuperar a libido de antes”, mas para descobrir um novo tipo de energia vital, mais alinhada com a maturidade do agora.
Ao atuar sobre o sistema nervoso, o yoga ajuda a reduzir o estresse crônico — um dos grandes sabotadores do desejo sexual. Ele também estimula o sistema endócrino, melhora a circulação sanguínea na região pélvica, desperta a consciência corporal e convida à entrega. Cada asana (postura), cada respiração profunda, cada momento de silêncio são convites para retornar ao corpo como fonte de prazer e potência.
Os pilares do yoga para ativar a vitalidade feminina
1. Respiração consciente (pranayama)
Respirar é o ato mais íntimo que temos com a vida. Durante a menopausa, muitas mulheres respiram de forma curta e superficial, reforçando o estado de alerta e tensão. O pranayama — conjunto de técnicas respiratórias — atua como chave para desbloquear a energia vital (prana) e restaurar o fluxo interno.
Sugestão de prática: Nadi Shodhana (respiração alternada)
Essa técnica equilibra os hemisférios cerebrais, reduz a ansiedade e promove clareza mental. Sentada com a coluna ereta, tampe a narina direita com o polegar, inspire pela esquerda, depois feche a esquerda com o anelar e expire pela direita. Inicie com 5 minutos por dia.
2. Asanas para o despertar da energia pélvica
O útero pode até deixar de menstruar, mas a energia criativa da mulher permanece. O yoga oferece posturas que desbloqueiam a região pélvica, melhoram a circulação e fortalecem o assoalho pélvico — essencial para o prazer e a vitalidade.
Sequência sugerida (passo a passo):
- Baddha Konasana (postura da borboleta)
Sente-se com a sola dos pés unidas e os joelhos caindo para os lados. Segure os pés e alongue a coluna. Permaneça por 2 a 3 minutos, respirando profundamente. - Setu Bandhasana (ponte)
Deite-se de costas, pés paralelos no chão, joelhos dobrados. Eleve o quadril e entrelace as mãos sob o corpo. Mantenha por 5 a 10 respirações. - Utkata Konasana (postura da deusa)
Em pé, abra as pernas e dobre os joelhos em um agachamento, com os braços erguidos em 90°. Ativa o segundo chakra, responsável pela sexualidade e criatividade.
3. Meditação e reconexão interna
Silenciar a mente é essencial para ouvir o corpo. A meditação permite perceber o que está vivo dentro de si, incluindo desejos, tensões, fantasias e necessidades que foram abafadas pelo ritmo da vida.
Sugestão de prática: Meditação do útero
- Sente-se em silêncio, com as mãos em concha sobre o baixo ventre.
- Visualize uma luz quente e suave nessa região, como uma chama que se acende.
- Permaneça ali, apenas sentindo, sem julgamento. Deixe que a energia do útero — mesmo após a menopausa — revele sua sabedoria e poder.
Libido e autoestima: dois caminhos que se entrelaçam
É impossível falar de libido sem tocar na autoestima. Muitas mulheres, ao entrarem na menopausa, sentem-se invisíveis ou desconectadas da própria sensualidade. Isso acontece em parte pela cultura que associa juventude à beleza e ao desejo. O yoga propõe um novo olhar: o corpo é templo, não produto. Ele é habitado por uma alma que deseja expressar-se, sentir prazer, viver com presença.
Ao praticar yoga, a mulher amadurece também seu olhar sobre si mesma. Em vez de se comparar com versões passadas, aprende a apreciar quem é hoje — com mais sabedoria, menos pressa, mais presença. O toque, o movimento, o respirar tornam-se formas de carinho e amor-próprio. A libido floresce nesse terreno de aceitação e cuidado.
Estimulando os chakras da vitalidade e do prazer
Segundo a tradição do yoga, temos centros energéticos chamados chakras. Dois deles são particularmente importantes para o tema da libido: o Svadhisthana Chakra (chakra sacral) e o Manipura Chakra (plexo solar).
- Svadhisthana (localizado abaixo do umbigo): está ligado à sexualidade, criatividade, fluidez e prazer. Práticas com movimentos circulares de quadril, meditação com a cor laranja ou mantras como “Vam” ajudam a ativá-lo.
- Manipura (região do estômago): está relacionado à força pessoal, autoexpressão e energia. Trabalhar esse chakra traz coragem para viver o prazer sem culpa ou vergonha.
Dica: Dança livre ao som de músicas suaves, com movimentos circulares e fluidos do quadril, é uma forma de yoga espontânea que estimula esses centros de forma lúdica e poderosa.
Alimentação e estilo de vida como aliados
A prática de yoga floresce quando acompanhada de escolhas conscientes. Durante a menopausa, a alimentação pode atuar como aliada da vitalidade sexual. Alimentos ricos em fitoestrógenos (como linhaça, soja orgânica, grão-de-bico), ômega 3 e antioxidantes ajudam a equilibrar o corpo.
Dormir bem, cultivar vínculos afetivos, buscar terapias integrativas e permitir-se momentos de prazer fora da sexualidade (um banho de sol, uma leitura, um café com amigas) são formas de alimentar a libido de dentro para fora. O prazer é um estado interno que começa muito antes do toque.
A importância do toque e da autopercepção
Muitas mulheres passam anos sem tocar o próprio corpo com presença e intenção. A prática de yoga resgata o contato com a pele, os músculos, o ventre, os seios — não como crítica ou diagnóstico, mas como celebração. O auto-toque pode ser uma meditação sensual, mesmo fora do contexto sexual.
Exercício sugerido: Yoga Nidra com foco na sensualidade
- Deitada em savasana (postura de relaxamento), conduza mentalmente um “escaneamento” corporal com foco amoroso: “Sinto meu rosto… meu pescoço… meus seios… meu ventre…”.
- Em cada região, inspire e expire como se abraçasse aquela parte do corpo.
- Essa prática ajuda a resgatar partes esquecidas e integra o corpo como fonte de prazer e presença.
Quando a libido volta a florescer
O retorno do desejo, na menopausa, pode ser diferente do que já foi. Talvez ele não venha com a mesma intensidade ou frequência, mas com mais presença, mais verdade, mais liberdade. A sexualidade amadurecida é menos sobre performance e mais sobre conexão — consigo, com o outro, com a vida.
Não há fórmula mágica, mas há caminhos possíveis. O yoga, com sua abordagem integrativa, oferece uma trilha segura e respeitosa para atravessar esse território. Ele não força nada, não promete resultados rápidos. Apenas oferece o convite: volte a habitar o próprio corpo como se fosse a primeira vez. E descubra, ali, a beleza do recomeço.
Um convite para você
Talvez, ao ler este texto, você se reconheça em algum trecho. Talvez tenha sentido saudade de si mesma. Ou curiosidade sobre essa energia que, embora silenciosa, ainda pulsa aí dentro.
A proposta do yoga não é que você se torne algo novo. É que você se lembre de quem sempre foi. A mulher cíclica, instintiva, criativa, sensual — agora mais inteira, mais consciente, mais livre. O desejo não termina na menopausa. Ele apenas muda de forma, de linguagem, de tempo.
Se você sentir o chamado, comece. Com uma respiração. Um toque. Um movimento. Um olhar no espelho que diga: “eu me vejo”. Porque no fundo, libido é isso — vida querendo ser vivida.
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